Este texto foi extraído da apostila "A arte do canto".
Texto: Ricardo Mascaro.
Respiração
A respiração é a base do canto. Podemos ir além: ela é a base da fala, pois é através da passagem do ar expirado que ocorre a vibração das pregas vocais, produzindo o som.
Toda e qualquer técnica vocal envolve um bom controle respiratório, para isso, o correto uso do sistema respiratório. Por exemplo, podemos dizer que a duração (prolongação) de uma nota cantada e a intensidade da mesma está intimamente ligada ao controle respiratório.
Existem quatro “tipos de respiração”, sendo eles: 1. Clavicular ou Superior (a expansão somente da parte superior da caixa torácica, ocasionando uma elevação visual dos ombros, e resultando uma tensão laríngea); 2. Média, Mista ou Torácica (pouca movimentação tanto da região inferior como da superior durante a inspiração, sendo insuficiente para o canto); 3. Inferior ou Abdominal (ausência de movimentos da região superior e expansão da região inferior); 4. Completa, Diafragmático-Abdominal ou Costo-Diafragmático-Abdominal (expansão harmônica de toda a caixa torácica, ou seja, sem excessos em nenhuma região, com a expansão da região costo-abdominal, permitindo o uso total da capacidade pulmonar). Sendo assim, o melhor “tipo de respiração” para a utilização profissional da voz (cantada e falada) é a Diafragmática/Completa (de base Costo-Diafragmático-Abdominal), diferente da que muitos apregoam erroneamente – a Inferior.
RESUMINDO:
Há muita discussão sobre esse tema: cada professor/escola costuma ter um critério para trabalhar a respiração. Porém, conforme estudos comprovam, a respiração que oferece maior suporte para o canto é a popularmente conhecida "Respiração Diafragmática". Ela consiste na elevação do músculo diafragma, na dilatação das costelas e numa pequena elevação do tórax, assim ampliando a caixa torácica e permitindo a "máxima" utilização da capacidade pulmonar.
Como identificar se estou fazendo a respiração diafragmática corretamente?
Bem, vamos começar com "exercícios" simples: Respire normalmente (inspire pelo nariz = encha o pulmão com o ar e expire pela boca = jogue o ar para fora). Observe que quando você inspirou você encheu somente a parte superior dos seus pulmões; isso pode ser melhor observado se durante a respiração você colocar as suas mãos sobre seu tórax (ele se elevará). Esse tipo de respiração que você acaba de fazer é insuficiente para o canto, pois não fornece ar suficiente para frases longas, frases rápidas e longas duração de notas (você só utilizou, talvez, 50% de sua capacidade pulmonar/respiratória!).
Vamos então localizar o nosso diafragma... Coloque suas mãos sobre a sua barriga. Pense que você precisa parecer mais magro e encolha/murche a barriga; encolha-a mais ainda, solte-a completamente e a encolha novamente. Se você conseguiu você acaba de achar seu diafragma... Foi contraindo o diafragma que você ficou mais magro (isso não literalmente, mais só para você entender). Preste atenção no movimento de quando você encolhe a barriga; tente fazer o contrário, "empurrando-a para fora". Conseguiu ? É justamente isso que você precisará fazer juntamente com a retenção de ar (eu sei que no começo "dói" um pouco e para haver aperfeiçoamento é necessário fazer exercícios como os descritos logo mais abaixo diariamente; é como se fosse uma ginástica/musculação, pois estamos trabalhando com os músculos do nosso corpo). Tente agora inspirar lentamente e com a entrada do ar fazer esse mesmo movimento de "empurrar a barriga para frente" (atenção: não é empurrar a barriga para frente e depois inspirar; é “inspirar fazendo com que esse ar naturalmente empurre a barriga para frente”, num “mecanisma automático”). O que você está fazendo é elevar o músculo do diafragma permitindo com que os pulmões sejam cheios por completo com o ar... Observe também a dilatação das costelas, colocando suas mãos na cintura. Tente sentir o ar tomando por completo os seus pulmões! Inspire elevando o diafragma, dilatando as costelas e elevando um pouco o tórax (os movimentos ocorrem nessa seqüência, rapidamente) e expire relaxando-os, voltando ao normal... Muito bem, você está aprendendo a dominar o seu sistema respiratório e aquecendo-o para a atividade do canto... Lembre-se que na respiração diafragmática (de base Costo-Diafragmático-Abdominal) há uma expansão harmônica de toda a caixa torácica; não é para forçar todo o ar só para o abdômen, não movimentando as outras regiões harmonicamente.
Exercícios
1) Inspirar lentamente, sempre utilizando a respiração diafragmática, e expirar lentamente, colocando as suas mãos ora sobre a região abdominal (sobre a barriga), ora sobre a região costo-abdominal (sobre as costelas/cintura), percebendo a movimentação/expansão dessas regiões;
2) Inspirar, “reter/conter” esse ar por cerca de dez segundos e expirar provocando os sons de: S, X, Z e F (atenção para manter sempre a mesma intensidade do som, não pode ficar oscilando);
3) Repetir o exercício 2 e, ao expirar “com sons”, utilizar-se de Staccato;
4) Repetir o exercício 2 e, ao expirar “com sons”, realizar variações uniformes na intensidade (mais forte e mais fraco).
OBSERVAÇÕES SOBRE OS EXCERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO:
Para fazer o exercício 2 você deve "morder os próprios dentes" (para colocá-los juntos/entrelinhados, pois o ar/som deve sair dentre o meio dos dentes). Os sons que devem ser produzidos são os sons somente das consoantes S, X, Z e F junto com um I "bem assoprado". Tente prolongar ao máximo a duração dos sons produzidos; pouco a pouco você estará conseguindo aumentar sua capacidade respiratória (se realmente fizer esses exercícios diariamente)...
Para fazer o exercício 3: STACCATO = movimentos rápidos de contração e relaxamento do diafragma. Lembre-se da conhecida ária da Rainha da Noite da Flauta Mágica de Mozart (aquela com os agudos U-U-U-Uuu-uuu-u, que o Edson Cordeiro gravou uma versão junto com I Can't Get No (Satisfaction)). Comece fazendo 4 staccatos e no 5 prolongando o som ao máximo como no exercício 2; gradativamente, vá aumentando o número de staccatos.
Para fazer o exercício 4: você deve oscilar gradativamente a intensidade do ar expirado, do fraco para o forte, tentando manter um nível, como se fossem ondas que vão crescendo e quebrando lentamente sempre nos mesmos lugares.
* Tudo no canto, ou melhor, nas nossas vidas, é uma questão de dedicação... Estes exercícios básicos acima descritos – bem como os demais exercícios propostos nessa apostila – estarão trabalhando os mecanismas envolvidos na produção vocal, assim refletindo o treino de sua voz/técnica; para que haja bons resultados, será primordial o seu empenho na execução diária deles, dedicando uns minutos do seu dia para fazê-los. Pouco a pouco você estará percebendo e colhendo os frutos de toda a dedicação dispensada à lapidação de seu natural e único instrumento musical, a sua voz.
Bom estudo amigos, até a próxima!
Rapaz, eu tava procurando por isso; valeu
ResponderExcluirabraços
Carlos
Faala Felipe! Grande post! Cara, você sabe o quanto isso vai me ajudar hehehe Grande abraço, Parabens pelo blog.
ResponderExcluirMarlom Klismann
Adoreii as suas dicas, agora já sei como instalar o padrão costodiafragmático. Vlw
ResponderExcluirMuito bem feito o texto . Excelente explicação.Esclareceu todas as minhas dúvidas.Muito grato!
ResponderExcluirExcelente texto!
ResponderExcluirMuito bem explicado e claro!
Ótimo o texto, muito bem explicado, agora é só por em prática.
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